Com informações de GGN
Na última quarta-feira, dia 29, a reitora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Maria Amália Pie Abib Andery, foi surpreendida com um pacote medidas encaminhado pela Fundação São Paulo, mantenedora da instituição de ensino. Dentre as novas regras do decreto, está que, a partir da próxima gestão, o reitor não será mais eleito pela comunidade da PUC, assim como todos os cargos intermediários de chefia. O cardeal d. Odilo Scherer será o responsável direto pela escolha e, os demais cargos, serão definidos pelo reitor escolhido diretamente pelo líder da igreja Católica em São Paulo.
Esse é um sério ataque à democracia universitária, e que acaba com o mínimo de democracia que poderia haver na escolha da reitoria da PUC-SP. Antes a comunidade acadêmica elegia a reitoria por lista tríplice, enviada então à Cúria para escolha do próximo reitor. Normalmente o mais votado da lista era escolhido. Mas na eleição de 2013, o mesmo cardeal d. Odilo Scherer, escolheu o menos votado da lista indicada pela comunidade acadêmica.
Outro ponto preocupante do pacote enviado pela Fundação São Paulo à reitoria, é a aposentadoria compulsória a partir dos 75 anos, o qual fere o Estatuto do idoso e a própria Constituição brasileira.

Em depoimento gravado em vídeo, o escritor, jornalista e professor da PUC-SP, José Arbex Júnior, destacou que a avaliação interna é de um levante dos setores de católicos conservadores contra o sistema democrático exercido pela instituição à décadas.
“É difícil explicar, para quem não conhecer a história, a importância que tem a PUC. Durante a ditadura militar, quando a cúria aqui em São Paulo era comandada por Dom Paulo Evaristo Arns, a PUC representou um espaço importantíssimo de resistência à ditadura”, pontuou o professor.
Há pouco mais de 40 anos, a PUC-SP protagonizou um dos eventos mais decisivos à derrocada da ditadura militar. Em 22 de setembro 1977, a mando do coronel Erasmo Dias, centenas de policiais, investigadores civis e tropas de choque invadiram a instituição de ensino, na ocasião em que ocorria o 3° Encontro Nacional dos Estudantes, e uma das pautas era a reorganização da União Nacional dos Estudantes (UNE), então proibida pelo regime.
Durante a invasão professores e estudantes foram atacados com cassetete e bombas de gás, vários estudantes foram pisoteados e mais de 500 foram levados para um batalhão da PM, o Tobias de Aguiar, na avenida Tiradentes. A ação obrigou Dom Paulo Evaristo Arns a voltar com urgência de Roma realizando, nos dias posteriores, uma série de entrevistas contra a truculência dos militares.
Reitora Maria Amalia Andery se posiciona perante o golpe:
Esclareço que em 29 de agosto informei o Conselho Universitário da PUC/SP que a Universidade iniciará amplo processo de discussão de reforma de seu estatuto, a partir de documento de trabalho que contém proposta de reformulação feita pelo Conselho Superior da Fundação São Paulo, mantenedora da PUC/SP.
A discussão, que envolverá todos os segmentos da comunidade universitária, ocorrerá nos próximos 60 dias e a proposta elaborada pelo Conselho Universitário será enviada ao Grão Chanceler e ao Conselho Superior.
Inicia-se, pois, um processo que deverá envolver a comunidade universitária, consolidando nossas práticas participativas que têm sido exemplares no contexto universitário nacional e que, tenho convicção, resultarão em um projeto em que se vinculam organicamente nosso compromisso social, relevância acadêmica e comprometimento com princípios éticos que sempre marcaram a trajetória da PUC/SP.
Maria Amalia Andery
Reitora da PUC-SP