No último dia 27, estudantes da UNIFESP, campus Guarulhos, realizaram um ato presencial em frente ao edifício da reitoria, zona sul da região metropolitana de São Paulo, reivindicando o direito dos estudantes de não cursarem as ADEs (ensino remoto) e o direito ao trancamento do semestre sem perda de bolsas e auxílios. Foram confeccionados cartazes e faixas denunciando o processo de privatização criado através da EaD, como a parceria com empresas para compra de chips e empréstimos de computadores, além do uso generalizado de plataformas de monopólios como o Google, bem como a precarização do ensino. Todos os participantes seguiram as recomendações para prevenção ao coronavírus, com o uso de máscaras, álcool em gel e distanciamento.
Esse é o segundo protesto dos estudantes contra a imposição da EaD na universidade, eles já haviam realizado outro ato exigindo também uma reunião com a pro-reitoria da unifesp, depois de ter um abaixo-assinado ignorado por esta. De fato, o ato foi muito vitorioso, pois conseguiram pressionar a reitoria e se reunir com os representantes da pro-reitoria na mesma semana. Entretanto, na reunião viram suas reivindicações serem negadas por um malabarismo burocrático e justificativas esdruxulas de que não seria possível conceder o trancamento sem perda de direitos, pois havia um impedimento legal.

A afirmação não se verifica na realidade, pois outras universidades federais asseguram parcial ou totalmente esse direito aos estudantes, como a UFPR, UFPE, UFGD e a UFABC. Essa última, vizinha da Unifesp, publicou um boletim de serviço em 15 de julho desse ano, esse documento traz o regulamento das atividades acadêmicas e no 7 art, item c) “O cancelamento de matrícula em disciplina e o trancamento do quadrimestre não impactam sobre a vigência de bolsas, processos seletivos futuros ou para o tempo de integralização do curso.” Portanto, está claro que não há impedimento jurídico, nada impede a universidade de mudar os regulamentos – que já foram todos adaptados para garantir a implantação da EaD imposta pelo MEC – e permitir que os estudantes bolsistas tenham o direito ao trancamento do semestre sem sofrerem a chantagem de serem obrigados a cursar o EaD, caso contrário perderiam seu salário.
Na reunião online com a reitoria não conseguiram sua reivindicação, mas não foi uma perda de tempo, ela servirá de aprendizado. Desde que a educação à distância começou a ser implantada na Unifesp, com o processo de aprovação antidemocrático no conselho universitário, sem debate com os alunos e todas as posições contrárias a essa política privatista sendo desprezadas, os estudantes têm se mobilizado, se reunido com os professores, feito cartas, notas e abaixo-assinados, mas todas as intervenções tem sido ignoradas e o discurso do Bolsonaro de que “não podemos parar” tem estado na ponta da língua dos burocratas universitários.

Deveriam ficar surpresos? Não. Sabem que as mobilizações online são importantes, principalmente durante a pandemia, mas elas têm limitações. Cartas, abaixo-assinados e reuniões podem ser ignoradas, mas protestos presenciais não. Não é à toa que com o primeiro ato conquistaram a reunião. Entretanto, temos visto o quão precarizado tem sido as ADEs na Unifesp, com cerca de um mês de aulas, já apresenta inúmeros problemas, como aulas por whatsapp, professores que se recusam a ministrar aulas sincronicas e somente passam textos; debates feitos em fórum; alunos sobrecarregados com atividades; professores que querem cobrar frequência etc. Tudo isso é expressão da velha fórmula da política desses governos, de precarizar para privatizar. Diante disso, cabe a tarefa de elevar a luta para o campo presencial.
Nos USA e no mundo inteiro têm ocorrido manifestações em resposta ao assassinato brutal de George Floyd e contra o racismo. Nosso povo também tem protestado dia e noite, colocando sua saúde em risco para reivindicar as condições mínimas necessárias para realizar a quarentena e prevenir sua saúde nessa pandemia que conta com mais de 125 mil mortos, tem lutado contra a fome e o desemprego, se manifestado contra a repressão policial nas periferias e os assassinatos do povo pobre e preto. Os estudantes não podem ficar em casa de braços cruzados, devem levantar alto a bandeira do classismo e se unir ao povo nessa luta! Para seguir com a luta contra a EaD terão que passar para luta presencial, combativa e sem conciliação.


Deparados com o retorno das aulas e a EaD imposto guela a baixo pelo MEC de Bolsonaro como única alternativa, muitos estudantes têm se manifestado espontâneamente contrários ao ensino remoto com o boicote, trancando o semestre ou excluindo as matérias. Essa é a forma que encontraram para se negar a cursar as ADEs. Mas essa forma de luta pode ir muito além disso, não deve ser apenas espontânea, por isso, o Centro Acadêmico da Pedagogia está convocando o boicote, pois entende que, com sua organização e seu crescimento, teremos uma arma capaz de barrar a implantação da EaD em nossa universidade. Só há um caminho, ir às ruas pela revogação das ADEs na Unifesp e pelo trancamento sem perda de bolsas e auxílios: só lhes resta a luta presencial e o boicote!
BOICOTAR AS ADEs/EAD NA UNIFESP!
PELO DIREITO AO TRANCAMENTO SEM PERDA DE BOLSAS E AUXÍLIOS!
PELO CANCELAMENTO DAS ADEs: QUEREMOS PESQUISA E EXTENSÃO!
CONTRA A PRECARIZAÇÃO E A PRIVATIZAÇÃO: DEFENDER AUNIVERSIDADE PÚBLICA COM UNHAS E DENTES!




