No dia 24 de janeiro, segundo dia de prova do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) teve abstenção de 55,3%. De acordo com o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), órgão responsável pelo exame, dos 5,5 milhões inscritos, apenas 2.470.396 compareceram. Ainda assim, esse número de abstenções pode ser até maior, considerando que os vestibulandos do Amazonas não estão incluídos na soma.
Com uma abstenção de 55,3%, é a maior abstenção da história do ENEM, batendo novo recorde ainda maior do que o do primeiro dia, 17, que teve 51,5% de ausentes. E do caso do ENEM de 2009, em que o caderno de provas vazou na internet, o que causou em torno de 40% de faltantes.
O ENEM ocorre em plena segunda onda da pandemia no país, com registros de mais de 1 mil mortes por dia e mais de 217 mil vidas ceifadas pela doença, mas também causadas pelo descaso do Estado em dar as condições mínimas para a população se proteger. O estado do Amazonas, inclusive, conseguiu recorrer legalmente e adiar o exame, por causa do caos causado pelo surto da segunda onda da covid-19 na região.
Ao final do 1º dia, ficou visível os problemas decorrentes da falta de condições sanitárias para realização da prova. Por todos os lados, vemos relatos de vestibulandos que foram expulsos do exame, devido a superlotação das salas em que seria aplicado a prova, que foram planejadas pelo MEC para terem 80% de ocupação, o que não garantiria o distanciamento social, uma das formas mais importantes para a prevenção ao coronavírus.
Mas o motivo que mais pode justificar o boicote de quase 2 milhões e meio de estudantes pelo Brasil talvez seja o fechamento das escolas e a imposição da EaD. Como dissemos na convocatória da ExNEPe:
“A EAD também representa a negação do direito de estudar e aprender. Enquanto os filhos das classes exploradoras tem aulas remotas e professores particulares, nos bairros de periferia do campo e da cidade a juventude é abandonada pelo Estado. As atividades escolares são entregues impressas e as orientações chegam via grupo de WhatsApp. Muitos estudantes não têm acesso à internet, não têm computador em casa, a maioria utiliza apenas o celular e mesmo os que possuem tais equipamentos não estão conseguindo acompanhar e aprender de fato. O que está acontecendo é um pacto da mediocridade, as escolas públicas fingem que ensinam, os estudantes fingem que aprendem. Os filhos dos trabalhadores são impedidos de ter acesso aos conhecimentos teóricos e científicos mais elementares.”
A Educação à Distância imposta por Bolsonaro e generais impossibilitou que a imensa maioria dos estudantes, os mais pobres, podessem estudar e aprender. No ano de 2020 esses estudantes não tiveram ano letivo, e o Estado, responsável pelo ensino, ainda aplica a aprovação automática. Isso é um crime contra o povo! Os únicos que saem ganhando com a EAD são os conglomerados da educação, que vêm embolsando grandes levadas de dinheiro público vendendo seus computadores e plataformas digitais.
Portanto, a realização do ENEM nestas condições é uma forma de tirar a oportunidade dos filhos do povo de entrar na universidade pública, que não terão chance de competir nesse exame por não terem conseguido estudar. Por isso, a ExNEPe tem defendido o boicote ao ENEM e a todos os vestibulares. Os 55,3%, ou 2 milhões e meio, mostram que o povo boicotou o exame e tem rechaçado o ensino remoto que o Estado lhe impõe pelo motivos acimas expostos, mas não podemos esquecer de tomar em conta a participação ativa de estudantes por todo o Brasil que atenderam ao chamado da ExNEPe e têm defendido o boicote à EaD e realizado atos e panfletagens contra a realização do ENEM, essas ações também determinaram o resultado final. Resta a nós organizar e dar um caminho para essa justa revolta, condição necessária para barrar esse ataque à educação.