
Os estudantes decidiram por ocupar o prédio João José Bigarella para denunciar a privatização da Universidade:
Barrar o corte de verbas com Greve de Ocupação!
Transformar o Politécnico em uma trincheira de luta!
Desde o anúncio do criminoso corte de verbas de 1,6 bilhão do orçamento do MEC, repassado diretamente às universidades e institutos federais, os estudantes de todo o país têm sentido na pele os efeitos da precarização do ensino. Na UFPR foram mais de 12 milhões de reais cortados, afetando todos os setores. Cursos como Geologia, Biologia, Geografia e Agronomia, cujas aulas de campo têm sido precarizadas por conta de constantes cortes há anos, deparam-se, agora, com o orçamento ainda menor, com a redução de sua duração e trajeto máximo, quando não de sua suspensão, como tem sido o caso de algumas aulas na Biologia. A Reitoria, sagazmente, remanejou os cortes para poupar o curso de Geologia, por mais alguns meses pelo menos, e redirecionar os cortes aos cursos de Biologia, Geografia e Agronomia, temendo o crescimento do protesto vanguardeado pelos futuros geólogos. Estão muito enganados se pensam que os estudantes aceitaram este truque barato. Todos os cursos estão presentes para lutar e, juntos, não permitirão corte nenhum!
Esta tem sido, via de regra, a tática da Reitoria. Dividir para reinar! Confundir para enganar! Em meio à mais brutal sucessão de ataques que nossa universidade já viveu, qual a resposta da burocracia universitária? Manejar os cortes, gerir a crise, escolhendo de onde cortar, de quem tirar e a quem privilegiar (aqueles mais próximos do reitor, é claro!). Enquanto isso vemos gradativamente se esvair a gratuidade de nosso ensino, que caminha, a passos largos, para a privatização. Em 2017 e 2018, a Reitoria tentou passar o escalonamento do RU, enquanto demitia dezenas de terceirizados e criava verdadeiras condições infernais nas cozinhas dos restaurantes, sendo barrada pela combativa ocupação do Departamento de Serviços Gerais (DSG) em meados de 2018. Em 2019, em meio à aprovação do projeto Future-se, a posição de Ricardo Marcelo era favorável, só sendo revertida pela imensa pressão estudantil nas reuniões do COUN. Em 2021, uma vitoriosa ocupação do RU Central conquistou a sua reabertura e inaugurou a retomada do caminho combativo do movimento estudantil da UFPR, afirmando que lutar é sempre justo e que só através da luta combativa e consequente se pode defender os interesses do povo.
O recente corte, além de afetar diretamente as aulas de campo, também tem gerado diminuição nas bolsas de pesquisa e extensão, redução das verbas dos departamentos e, em perspectiva, até a demissão de funcionários terceirizados e redução na disponibilidade de água e luz dentro dos campi. Sem falar que a Reitoria usou dos cortes para justificar o absurdo aumento da taxa do vestibular de 25%, saltando de R$155,00 para R$195,00, ou seja, 16% de um salário-mínimo em um país onde mais da metade da população passa fome. Assim a universidade fica cada vez mais distante da realidade popular, se faz de cega para os problemas que afligem o povo, aceitando como normal estes absurdos de cada dia. Em grande parte dos cursos faltam vagas nas disciplinas do 1º ao 3º ano, consequência direta da EaD, contribuindo enormemente para a evasão! Na pós-graduação e em alguns cursos, como Turismo, Enfermagem e Biologia, ainda há muitos professores dando aula a distância, na maioria dos casos, não porque há uma real necessidade ou risco, mas sim por pura comodidade, sua pelo menos, já que vários destes professores ainda forçam seus alunos a assistirem às aulas EaD presencialmente na sala de aula e cobrando chamada (!?).
Muitos estudantes têm se levantado em repúdio ao estado de coisas, denunciando a precarização da educação como parte do projeto de privatização de nossas universidades, já anunciado em alto e bom som pelo governo federal. Foram feitos dezenas de espaços de discussão, assembleias de curso, panfletagens, reuniões com vários setores da universidade e manifestações dentro e fora dos campi. Toda esta luta tem rendido resultados, inegavelmente, mas cremos que é preciso dar um passo adiante. Para responder a estes ataques no grau que a situação demanda, o movimento estudantil combativo deve empunhar em suas mãos sua tática mais avançada, a greve de ocupação! Devemos mirar o exemplo histórico das heroicas e vitoriosas greves de 1968, que culminaram, em nossa cidade, na Batalha do Politécnico, luta que derrubou a cobrança de mensalidade na universidade. Devemos empunhar a bandeira da ocupação da UNIR em 2011, que derrubou o reitor corrupto e barrou o REUNE. Devemos nos inspirar nos estudantes secundaristas, que em 2015 e 2016 levaram a cabo a maior onda de ocupações de escolas que o país já testemunhou, com mais de 1.000 escolas ocupadas. Devemos nos espelhar nos estudantes que tomaram o RU da UERJ em 2017 e com isso reverteram seu fechamento. E por fim, devemos continuar o caminho da ocupação do RU da UFPR que em 2021 possibilitou sua reabertura.
Por tudo isto, ocuparemos o prédio João José Bigarella e nos próximos dias o transformaremos em uma trincheira de luta contra os cortes de verbas e a precarização do ensino. Convidamos todos os estudantes democráticos interessados em compor esta luta, que se unam a nós. Desafiem a Reitoria e o governo federal, tomem os demais prédios de nossa universidade e reverberem esta luta para seus locais de estudo. Ocupar é um direito e lutar é justo! Basta de imobilismo, medo e capitulação!
Exigimos: 1) a garantia de verbas para o pleno desenvolvimento das aulas de campo nos cursos de Geologia, Biologia, Geografia e Agronomia para todo o ano de 2022, e para o ano de 2023 exigimos o reajuste em + 10% sob os valores vigentes; 2) o fim das aulas à distância, ministradas de forma arbitrária, e o pleno retorno presencial da universidade; 3) a mudança da abusiva taxa do vestibular de R$195,00 para R$50,00; 4) o retorno das marmitas nos RU.
Ocupar e Resistir!
Frente Estudantil Contra a EaD – julho de 2022.