Reproduzido do Jornal A Nova Democracia. Disponível em: https://anovademocracia.com.br/pr-realizada-em-curitiba-grande-manifestacao-contra-o-aumento-da-passagem/
No dia 2 de março, no Centro de Curitiba (PR), mais de mil estudantes e trabalhadores mobilizaram-se em uma manifestação contra o aumento da tarifa de ônibus para R$ 6,00. Exigindo o passe livre, os manifestantes tomaram as ruas e canaletas – vias expressas de circulação dos ônibus biarticulados – da capital parananense, passando por locais altamente frequentados por usuários do sistema de transporte público.
A concentração teve início na Praça Santos Andrade, à frente do Prédio Histórico da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Por volta das 18h40, os manifestantes saíram em marcha pela canaleta em direção ao Terminal Guadalupe, local de grande concentração de massas trabalhadoras de Curitiba e Região Metropolitana. No caminho, bradavam-se palavras de ordem como Passe livre já!, Mãos ao alto, 6 reais é um assalto!, Se a tarifa não baixar, Curitiba vai parar!, No campo e na favela, o povo se rebela!, Oh Greca, seu vacilão, se não baixar a gente queima o busão!, dentre outras.




No Terminal, todos pararam em meio às numerosas filas de trabalhadores que aguardavam aos ônibus. Foram acendidos sinalizadores e realizadas intervenções em denúncia ao criminoso aumento da tarifa e em defesa do passe livre (tarifa zero) e do transporte público gratuito enquanto direitos populares fundamentais. Em seguida, os manifestantes e aqueles somados ao ato retornaram à canaleta e marcharam até a Praça Eufrásio Corrêia, na Avenida Sete de Setembro. Em todo o caminho, os ônibus que passavam eram engolidos pela enorme massa de manifestantes, que colavam cartazes e batiam nas laterais dos veículos, recebendo através das janelas o apoio de inúmeros usuários do transporte público. Também foram colados lambes nos vidros das estações tubo ao longo do trajeto.
As ruas não têm dono
Na Praça Eufrásio Corrêia, representantes da União Nacional dos Estudantes (Une), União Paranaense dos Estudantes (Upe), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), União Paranaense dos Estudantes Secundaristas (Upes) e toda sorte de entidades aparelhadas pelo oportunismo eleitoreiro tentaram desmobilizar o ato e dissuadir o ímpeto combativo dos manifestantes. Contudo, não obtiveram êxito, visto que um bloco formado por organizações democrático-revolucionárias independentes tomou a frente da manifestação e clamou todos a marcharem até a Praça Rui Barbosa.
Empunhando bandeiras combativas, como a da Palestina, e uma faixa com a consigna R$ 6,00 é roubo! Passe livre já!, o bloco independente e as massas em protesto recusaram-se a encerrar o ato e continuaram marchando pela canaleta. Chegando à Rui Barbosa, a faixa foi estendida em uma estátua e todos se reuniram na área central da praça. Um dos manifestantes interveio: “Esse é um dia histórico da luta combativa na cidade de Curitiba! Esse aumento criminoso nós iremos barrar, custe o que custar! Dez anos atrás toda a juventude brasileira se levantou de uma vez só contra o aumento da passagem, a carestia de vida e a corrupção. Esse levantamento, nós o colocaremos aqui e agora: que venham muitos 2013! E aqueles que acham que são donos do movimento e têm o direito de encerrá-lo, fora do que foi combinado, prestem muita atenção: a rua não tem dono e o povo é soberano! Amanhã vai ser maior!”. Por fim, todos os presentes foram convidados a organizarem novas manifestações e catracaços contra o reajuste da tarifa e em defesa do passe livre.
Do bolso do povo para o dos empresários
Em 28 de fevereiro, a Prefeitura de Curitiba divulgou o aumento da tarifa de ônibus de R$ 5,50 para R$ 6,00 – para pagamentos tanto em dinheiro quanto utilizando o cartão transporte. Na tarde do mesmo dia, nenhum representante da Prefeitura ou da Urbanização de Curitiba (Urbs) desejou manifestar-se sobre o reajuste. Muito pelo contrário, o criminoso aumento foi aprovado na surdina e poucas horas antes de começar a valer – a ser aplicado já no dia seguinte (01/03) –, na tentativa de impedir a mobilização das massas.
O reajuste foi de 9,09% sobre o valor vigente até então, porcentagem que está bem acima da inflação acumulada de 5,77% registrada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Ademais, foi o segundo acréscimo desde o início de 2022, quando o valor já havia saltado abruptamente de R$ 4,50 para R$ 5,50 após a pandemia de Covid-19. Com o novo aumento de R$ 0,50, a tarifa de Curitiba tornou-se a mais cara dentre todas as capitais estaduais do Brasil, juntando-se à Florianópolis (SC) e Porto Velho (RO). Todavia, nessas últimas duas cidades, as tarifas caem respectivamente para R$ 4,98 e R$ 4,50 caso seja utilizado o cartão transporte.
Entretanto, todos sabem que pisotear os direitos do povo a fim de contemplar os interesses do cartel do transporte curitibano tem sido parte das políticas higienistas do prefeito reacionário Rafael Greca (PSD). Afinal, não é novidade sua ligação com os empresários parasitas da família Gulin, detentores mais de 70% dos consórcios de ônibus da capital paranaense, conforme demonstrado por uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) em 2013, que apurou a formação de cartéis em licitações relacionadas às linhas de transporte. Curiosamente, na mesma semana do reajuste da tarifa, a construtora AG7 – pertencente a um dos herdeiros da máfia dos Gulin – anunciou um investimento de R$ 282 milhões em Camboriú (SC), empreendimento multimilionário construído a partir da fortuna de décadas de falcatruas e contratos de ônibus com a Urbs e a Prefeitura de Curitiba.
Logo após o anúncio do reajuste, um grupo de vereadores tentou revertê-lo judicialmente, não logrando sucesso. Isso demonstra que não existe a possibilidade de que o absurdo acréscimo no valor da tarifa de ônibus seja barrado pela Prefeitura, Urbs, empresários, políticos ou demais representantes de instituições públicas ou privadas. Longe disso, é importante relembrar que a única vez em que houve queda no valor da tarifa de ônibus em Curitiba foi após a incansável luta da juventude combatente nas vitoriosas jornadas de 2013. Dez anos depois, não será diferente: a explosiva manifestação de 2 de março demonstrou que apenas a luta popular combativa – com greves, catracaços e outras formas de protesto – será capaz de reverter o criminoso aumento da passagem.



